Mes@ de Mulher

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domingo, 22 de maio de 2011

O PLANTAR E O COLHER


O Plantar e o Colher

Texto de Naira Milene Silva

Estamos mergulhadas num mundo que o tempo todo nos convoca a sermos rápidas, eficientes, competentes e auto-suficientes. Nossas relações pessoais, relações de trabalho, relações amorosas, muitas vezes se tornam superficiais, o que nos leva a sentirmos falta de algo, o que gera um desconforto interior. No ritmo acelerado do capitalismo, seguimos em frente, tentando dar conta do que a sociedade nos exige.

Rapidez. Flexibilidade. Imagem. Corpo. Aparência. Imediatismo. Consumo. Sensação. Eis algumas palavras dão o tom dos valores vigentes em nossa cultura. Podemos dizer que estamos sendo regidos pela a idéia da juventude. E será que tem algo de errado nisso?

Deixando de lado a questão da idade cronológica vamos, a partir de agora, entender aqui, o termo JUVENTUDE como um estado de ser, que pode estar presente tanto nos jovens quanto nos idosos, que pode estar presente em alguns momentos da nossa vida e em outros não. A JUVENTUDE corresponderia, assim, ao momento de iniciar, começar, ousar, criar, flexibilizar ou seja, seria o momento de plantar.

No outro pólo, temos então, a VELHICE, que na nossa sociedade é tão temida e desvalorizada. Da mesma forma, vamos olhar para a VELHICE como um conjunto de características que podem ou não estar atuante em determinados momentos, situações. Nesse caso, algumas das características associadas são a lentidão, a rigidez, a conservação, a sabedoria.

Os dois estados, juventude e velhice, tanto um quanto outro, tem seus prós e contras. Se de repente precisamos ser imediatistas ou até mesmo irresponsáveis para superar uma situação que nos prende, que nos limita, ou seja, algo que não conseguimos resolver por excesso de cautela, os valores juvenis tem a sua função. Da mesma forma, se somos rígidas ou até mesmo teimosas em recusar algo que nos faça mal, estamos colocando a sabedoria da velhice em ação. No entanto, juventude e velhice são prejudiciais quando não há movimento, quando se está paralisado em um dos pólos.

Se a JUVENTUDE corresponde ao plantar a VELHICE corresponderia ao momento de colher. E o plantar e o colher são movimentos que se dão durante toda a vida!

No entanto, nossa sociedade, está presa em um dos pólos desse movimento. Estamos presas a um ideal da JUVENTUDE ETERNA e apostando nesse ideal como garantia de felicidade. E justamente, essa recusa de todos os valores representados aqui pela VELHICE, é o que nos impede de alcançar o nosso equilíbrio interior. Viver unicamente na JUVENTUDE dificulta o movimento de consolidar e conservar relações, de parar para sentir quais são nossos desejos reais, para ver as nossas conquistas internas e nossa beleza interior.

Especialmente no caso de nós mulheres, o ideal de juventude vem bastante associado ao ideal de beleza física, cujos padrões tentamos nos enquadrar: dieta, exercícios, lipoaspiração e muita insatisfação. Todas nós queremos nos sentir belas e admiráveis, no entanto, não podemos deixar de sermos capazes de nos amarmos e admirarmos por tudo aquilo que somos além da beleza física. Se por um lado queremos estar bonitas segundo esse imperativo social da juventude, por outro devemos nos perguntar até que ponto estamos em busca de algo impossível que nada tem a ver com a nossa individualidade. A tirania das aparências gera sofrimento. É nesse momento também que devemos abrir mão da juventude eterna resgatando a sabedoria da velhice. É o momento de diminuir o ritmo, de entrar em contato com o nosso interior, de fazer questão de conservar o que consideramos mais precioso em nós e nas nossas vidas.

A VELHICE nos convoca para o interior, na medida em que olhamos para nós mesmos e vemos a beleza do caminho que foi percorrido, a beleza de tudo o que já foi vivido, experimentado, transformado, superado. É a partir das reflexões sobre o nosso dia-a-dia e do movimento entre as duas polaridades que conseguimos estar bem conosco.

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